quinta-feira, 31 de março de 2011

ÁGUAS DE MATO GROSSO

ÁGUAS



Manoel Barros




Foto: Ruth Albernaz


Desde o começo dos tempos águas e chão se amam,

Eles se entram amorosamente

E se fecundam,

Nascem formas rudimentares de seres e de plantas

Filhos dessa fecundação.


Nascem peixes para habitar os rios

E nascem pássaros para habitar as árvores,

Águas ainda ajudam na formação de conchas e dos caranguejos,

As águas são a epifania da Natureza,

Agora penso nas águas do Pantanal

Nos nossos rios infantis

Que ainda procuram declives para correr,

Porque as águas deste lugar ainda são espraiadas

Para o alvoroço dos pássaros.

Prezo os espraiados destas águas com suas

Beijadas garças,

Nossos rios precisam de idade ainda para formar

Os seus barrancos

Para pousar em seus leitos,

Penso com humildade que fui convidado para o

Banquete destas águas,

Porque sou de bugre,

Porque sou de brejo.

Acho que as águas iniciam os pássaros

Acho que as águas iniciam as árvores e os peixes

E acho que as águas iniciam homens,

Nos iniciam,

E nos alimentam e nos dessedentam,

Louvo esta fonte de todos os seres, de todas as

Plantas, de todas as pedras,

Louvo as natências do homem do Pantanal,

Todos somos devedores destas águas,

Somos todos começos de brejos e de rãs,

A fala dos nossos vaqueiros carrega murmúrios

Destas águas,

Parece que a fala de nossos vaqueiros tem consoantes

Líquidas

E carrega de umidez as suas palavras,

Penso que os homens deste lugar

São a continuação destas águas.